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Em 1971, a revista musical londrina “Tempo” encomendou um número de peças curtas para comemorar o desaparecimento de Igor Stravinsky: a obra de Alfred Schnittke para quarteto de cordas, “Cânone em Memória a Igor Stravinsky”, foi uma delas. Uma obra deliberadamente concentrada, o “Cânone” não é um verdadeiro cânone, mas um estudo em heterofonia: uma série de frases curtas são tocadas para cada membro do quarteto, mas em diferentes durações. (Ao contrário de outras obras que usam esta técnica, as durações no cânone são fastidiosamente notadas por Schnittke, ao contrário da aleatoriedade). O resultado é uma série de angustiantes acordes cromáticos, criados pela interacção da cada frase com as suas desfasadamente ritmicamente frases gémeas do quarteto. Estas frases seguem-se directamente em grande parte da obra, contudo às vezes são separadas por pausas extremadamente longas – o silêncio ganha significado aqui – tornando-se mais do que apenas som resultante.

No princípio da obra, as frases são embrionárias e pouco desenvolvidas, mas estas começam a crescer continuamente no seu âmbito tonal e extensão até atingem o seu clímax. Seguidamente, as frases contraem-se no mesmo gesto, até que apenas resta silêncio. A peculiar qualidade expressiva e relativa simplicidade da obra sugere que o testamente de Schnittke a Stravinsky é. de facto, profundamente sentida.

(Andrew Lindeman Malone)